sábado, 21 de junho de 2008

VALENTINA

Após 2 meses, bebê de mãe com síndrome de Down e pai com atraso mental é registrado
Plantão Publicada em 13/06/2008 às 08h34mJussara Soares, Diário de S.Paulo

SÃO PAULO - Nascida há dois meses e três semanas, o bebê Valentina foi finalmente registrado nesta quinta-feira no cartório da cidade de Socorro, a 135 quilômetros da capital. Filha de Maria Gabriela Andrade Damate, de 27 anos, portadora de síndrome de Down, e de Fábio Marcheti de Moraes, de 28 anos, que possui um atraso mental, ela teve a certidão de nascimento negada porque o pai não conseguia declarar a paternidade. Neste caso, ela deveria ser registrada apenas no nome de Maria Gabriela - o que não foi aceito pela família dela.
A emissão da certidão de nascimento foi determinada, na terça-feira, pela juíza Érica Brandão, da 2 Vara Cível do município. Diante da juíza e do promotor Elias Francisco Chaib, mesmo com dificuldade, Fábio conseguiu declarar que era o pai de Valentina e namorado de Gabriela. E fez questão de enfatizar sua participação para a concepção da filha.
- Perguntaram se ele mantinha relação sexual com Maria Gabriela, e o Fábio disse que era todo dia - diverte-se a avó materna, Laurinda Ferreira de Andrade, de 51 anos, que procurou o Ministério Público para que a neta tivesse nome de pai e mãe no registro.
Com a certidão da filha em mãos, Fábio era só felicidade.
- Agora eu sou pai. Até ontem eu não era - disse Fábio, com a filha no colo.
Como ele não sabe escrever, coube à Gabriela assinar o registro de nascimento.
- Estou muito feliz - disse a mãe que, embora já more com Fábio, ainda não desistiu da idéia de se casar, "de papel passado" em cartório e na Igreja.
Para a avó Laurinda, que é quem cuida de fato da pequena e saudável Valentina, ela e Gabriela estão em papéis trocados.
- Eu fico com a educação, e a Gabriela com o papel de paparicar, que em geral é a função de vó - observa Laurinda, elogiando o desempenho da filha como mãe.
- Gabriela é muito delicada. Já troca fralda e me ajuda no banho. Vou fazer questão que ela leve a filha à escola, como toda mãe - disse.
O desejo agora é que Valentina - que significa coragem e de saúde perfeita - não tenha que enfrentar outro preconceito por causa da deficiência dos pais.
- Espero que nunca mais ela passe por uma situação assim. Vou educar a Valentina para que ela tenha orgulho dos pais - disse.
Tanto esforço para ter os sobrenomes dos pais na certidão rendeu um nome tão comprido como o de uma princesa: Valentina Andrade Demate e Marcheti Moraes. Namoro começou na Apae
O registro de nascimento de Valentina celebra uma história de amor que começou quando Maria Gabriela e Fábio ainda eram crianças. Eles se conheceram na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), de Socorro.
Há três anos, quando Fábio voltou para estudar na Apae, o casal iniciou o namoro e, logo, com o apoio das famílias, foram morar juntos. A gravidez de Gabriela só foi descoberta no sexto mês de gestação, quando Fábio confidenciou a um amigo que à noite eles ficavam vendo a barriga dela mexer.
- Isso foi um choque. Não esperava que ela pudesse engravidar, nem dos riscos para a criança e a mãe -disse a avó Laurinda.
Valentina está entre os 50 bebês registrados no mundo filhos de mãe com síndrome de Down. As mulheres portadoras desta deficiência podem engravidar, e tem 85% de chances de gerar uma criança sem a mesma herança genética - como ocorreu com Maria Gabriela. Já os homens com a down são estéreis.


Fonte:http://oglobo.globo.com - 13/06/2008

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