terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Vejamos a educação...


Nas duas últimas semanas foram veiculadas matérias em uma grande (?!?!) revista de circulação nacional com idéias incrivelmente distorcidas sobre a educação e os educadores brasileiros.
Na semana passada, fomos, todos os educadores sérios e competentes deste país, aviltados de maneira agressiva e extremamente desrespeitosa... Fomos tratados como moleques despreparados e desqualificados. Não sei se as desinformadas e tendenciosas jornalistas que assinaram tal matéria fazem idéia que um professor, cada vez que está diante do desafio que é uma aula, traz consigo uma concepção de mundo e de sociedade, e que quanto a isto, sinto muito, mas por mais que as repórteres e o grupo de pessoas a quem elas representam queira, não há a mínima possibilidade de neutralidade. Todos nós trazemos concepções sim! E os educadores precisam ter em mente, no Projeto Político Pedagógico de cada escola, o tipo de homem e de sociedade que desejam formar, e a cada família cabe fazer a escolha, de acordo com o que deseja para seus filhos, para a sociedade e, sem nenhum exagero, para o Planeta... Existem escolas trabalhando nas mais diversas concepções, mas nenhuma nunca foi e nunca será neutra.
Muitas pessoas, das mais variadas profissões julgam-se competentes para opinar sobre o trabalho do professor. Será que é possível dizer a um médico como proceder... ou a um pedreiro, um economista ou a um advogado qual a maneira de exercer sua profissão? Não. Ninguém se julgaria preparado para tal. Pois é, mas sobre educação, e de preferência, para desqualificar o professor, são várias as vozes que se levantam. Será que estas pessoas têm noção que para que cada aula aconteça o professor precisa ter estudado, no mínimo sobre epistemologia, didática, psicologia, sociologia, filosofia, história, política educacional, além de todo o saber próprio de sua disciplina? Será que se dão conta do quanto de conhecimento e de investimento pessoal está subtendido em cada prática e de que não são conhecimentos simples, que não podem ser construídos sem muito estudo, reflexão e dedicação? E que a atualização é constante, num mundo em mutação permanente?
Não são apenas conhecimentos técnicos...cada aluno é um ser que pensa, que constrói conhecimento, que sente, que tem desejos e opiniões próprias, que traz uma extensa bagagem cultural e familiar, além das peculiaridades da sua faixa etária e do meio social em que vive... e tudo isto multiplicado por 20 ou 40 alunos em uma sala de aula. Não esquecendo, também, das muitas horas dedicadas ao preparo, atualização, correção de trabalhos e etc... Nenhum professor fecha a porta da sala de aula, e só volta a pensar no seu trabalho no dia seguinte... Por isso e por muito mais, por favor, mais respeito com o professor!!!! Ser educador não é uma missão nem uma vocação.É uma profissão que exige muita qualificação.
Como se não bastasse a matéria da semana passada, que gerou muitos constrangimentos entre nós, não só pelo desrespeito, mas pela maneira totalmente antiética com que cita professores e instituições, nos deparamos novamente, nesta semana, com uma triste coluna, na mesma revista, com teor altamente tendencioso...
Muito teria para dizer sobre a referida coluna e sobre tantas outras que circulam por aí, mas vou falar sobre minha preocupação com este momento. Penso que todos nós somos perdedores, enquanto sociedade, por termos pessoas totalmente tendenciosas formando a opinião dos brasileiros via desqualificação da educação. Não existe neutralidade nenhuma nesta posição. A escola precisa ser neutra, não é o que apregoam? Que engraçado! E a mídia?
Me inquieta a maneira como os espaços estão sendo ocupados, como as cabeças estão sendo feitas em nossa sociedade. Um artigo aqui, outro ali, parece que, a princípio, não causam mal algum, que deveríamos deixar como está, que cada um fala o que pensa, e tudo bem...A princípio pode até parecer bem democrático...mas cuidado!
Uma coluna como a que estou me referindo, se levada a sério por desconhecedores, por pessoas que já estão levadas a pensar de determinada forma por um senso comum emburrecedor e acrítico, podem achar até muito interessante...mas se a analisarmos com cuidado, em cada parágrafo há algo não só de assustador, como de muito perigoso e com conseqüências muito séria para todos nós...é um texto, que se levado ao pé da letra, nos leva a concepções já vistas na Alemanha pelos idos de 1940. Será atual? Será neutra? Será competente? Será inofensiva? Será moderna? Será...?
Faço um convite especial aos pais, aos educadores e às pessoas sérias e comprometidas com um mundo em profunda transformação: existem excelentes e sérias publicações sobre educação: são revistas, jornais, livros, sites extremamente ricos e qualificados. Quando me refiro a opinar sobre o trabalho do professor não estou, de maneira alguma, me opondo à participação construtiva de toda a sociedade na educação. Esta é muito bem vinda, e absolutamente necessária, mas com diálogo e troca de saberes inerentes à profissão de cada um, que juntos construirão a escola brasileira tão necessariamente qualificada.. Convido a todos para que ocupemos os espaços coletivos, que façamos nossas vozes serem ouvidas...se não os ocuparmos, outros o farão, de forma lamentável.

Maria Rita Vidal Peroni
mariaritaperoni@gmail.com.br
Professora