sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O heróico trabalho da Apae, José Fortunatti*

Durante séculos, os portadores de deficiência de qualquer natureza foram fortemente discriminados pela sociedade. Em especial, os portadores da síndrome de Down e todos os portadores de alguma deficiência intelectual ou múltipla.
Felizmente, apesar de toda a negligência e ineficiência do poder público, a sociedade civil começa a se organizar para promover e articular ações de defesa dos direitos das pessoas com deficiência na perspectiva da inclusão social dessas crianças e adolescentes.
As Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) começam a mostrar "a cara" a partir de 1954, cumprindo com um papel no qual o Estado se mostrava absolutamente omisso. De lá para cá, muita coisa mudou. Nestes 54 anos de existência, as Apaes conseguiram mostrar para a sociedade o valor das crianças e adolescentes portadores de alguma deficiência intelectual ou múltipla, fazendo com que as próprias famílias deixassem de se "envergonhar" de algum filho nessa situação.
Na condição de secretário estadual da Educação, aprofundei as minhas relações com o trabalho desenvolvido pelas Apaes e me apaixonei pelo trabalho educacional realizado por estas instituições. Fico perplexo com a insistência do próprio Ministério da Educação, que, em nome de um processo de inclusão educacional (que todos desejamos), simplesmente deseja fechar as escolas das Apaes.
Sempre fui um ferrenho defensor da inclusão educacional das crianças portadoras de qualquer deficiência nas escolas regulares, mas o pressuposto é que essas escolas tenham plenas condições de abrigar as crianças com professores capacitados para a tarefa, com a utilização de material pedagógico adequado, com a preparação dos colegas de turma e com um sólido trabalho realizado com os familiares dos alunos.
Caso contrário, na base do "tudo ou nada" como parece desejar o MEC, o "processo de inclusão" propost o pelo Ministério vai aumentar o fosso entre os alunos portadores de alguma deficiência intelectual e os demais alunos. Ao invés de um processo verdadeiro de inclusão, isso ocasionaria uma maior rejeição, discriminação e aumento do preconceito com os alunos portadores da deficiência.
Espero que o MEC ouça quem nos últimos 54 anos tratou com muito amor e dedicação desta questão e não se deixe levar por "novos teóricos" da inclusão, que com a única vivência acadêmica desejam "revolucionar" o setor.
Espero que amanhã, quando a Apae de Porto Alegre realiza a Caminhada Solidária, todos estejamos juntos para continuarmos construindo esta maravilhosa solidariedade para com estas queridas, fantásticas e amorosas crianças portadoras de deficiência intelectual.
*Secretário municipal de Planejamento e vice-prefeito eleito de Porto Alegre.
Fonte: Zero Hora - 14/11/2008

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